"As deslocações à Luz sempre foram dos momentos  mais apetecidos para os adeptos integrantes dos grupos organizados verde  e brancos.
Nos anos 80 os artefactos pirotécnicos eram uma  verdadeira "moda". A inacessibilidade de potes de fumos, apenas  disponíveis àqueles que dispunham contactos no meio militar, motivava o  uso de extintores de incêndio.

Desta forma, o recurso aos extintores pela  generalidade dos grupos de apoio, era um fenómeno que se prolongaria até  meados da década de 90.
Naqueles tempos os extintores entravam  tranquilamente no interior dos estádios. As tochas surgiriam logo  depois, ganhando força nos anos 90, com a disseminação dos postos de  venda no nosso país. Na deslocação de 1985 à Luz, vivemos um episódio  marcante na Torcida Verde.
Pelo que já foi descrito vivia-se num contexto  de grande entusiasmo por potes de fumo. Na altura um dos fundadores da  Torcida Verde estava na Força Aérea, o qual tinha uma verdadeira  obsessão por potes de fumo.
A aquisição de potes de fumo naqueles tempos era-nos impossível, causando-nos "água na boca" concretizar tal sonho.
Após vários meses de "estudo" no seu local de  trabalho eis que surge uma oportunidade com a renovação de um stock de  determinadas granadas de fumo. Perante esta oportunidade, nem se hesitou  e ainda sem saber exactamente o conteúdo do pote levantou cerca de 20  granadas de fumo cilíndricas de grande dimensão.
Recebemos um bom número desses objectos na  arrecadação da altura. Infelizmente as infiltrações da chuva provocaram  humidade e danificaram diversas granadas de fumo.
Decidimos estrear as ditas granadas na  deslocação à Luz. Nesses tempos, sem escoltas policiais ou revistas nos  estádios, entrava tudo o que o nosso bom senso (ou a falta dele)  permitisse. Tubos de madeira para as bandeiras, tambores, extintores,  etc.
No dia dessa transferta levámos uma meia dúzia  das tais granadas de fumo para "testar" e ainda os habituais dois  extintores de incêndio para o caso de não conseguirmos detoná-las.
A dimensão e o número das granadas exigiu-nos  que as prendêssemos à vedação metálica do 3º Anel com fita adesiva. Da  parte de fora da bancada ficando dessa forma "suspensa no ar".
Lembramo-nos que cada granada tinha uma rosca  que seria desaparafusar e depois por fricção detonar o rastilho que  estava no interior.
Das seis granadas a utilizar, apenas uma  funcionou, felizmente... Quando o rastilho detonou sentimos um pequeno  estalido e de rompante um fumo acinzentado emerge, logo seguido de um  colossal fumo preto espesso como se estivesse a sair de um comboio a  vapor. Surpresos com aquela fumarada, por pouco não nos apercebemos que a  granada "balanceava" suspensa por fita adesiva e prestes a cair da  nossa bancada para a bancada do 1º Piso onde se encontravam os lampiões.
Por sorte, os tubos de madeira usados para as  bandeiras serviram para "pescar" a tal granada, uma vez que esta era um  pequeno vulcão com temperaturas altíssimas.
Ainda assim, um dos extintores conseguiu apagar  o fogo que se pegou às bandeiras usadas para pescar esta verdadeira  "bombaça", de tal forma poderosa que alguns dos nossos membros  envolvidos no seu "resgate" por inalarem tanto fumo, acabaram por nem  ver o jogo.
Desta forma, talvez se tenha evitado o primeiro caso sério em estádios de futebol portugueses.
Mais tarde, o militar em questão descobriu que  tais artefactos estavam fora de uso há vários anos e a sua verdadeira  utilidade era potenciada nas florestas, uma vez que se tratava de um  fumo altamente corrosivo para destruir florestação. A sua finalidade não  era de sinalização mas de corrosão."
Sem comentários:
Enviar um comentário