TV: Quando se formaram?
GS: O grupo foi fundado em 2002 quando começamos o campeonato na serie C. O nome escolhido foi "Gruppo Storico UV73" porque foi fundado pelos líderes dos míticos "Ultras Viola 1973". Este grupo liderou a "Curva Fiesole" durante 10 anos e acabou devido à perseguição policial após confrontos com os adeptos da Roma em Florença.
TV: Valores e ideais desses tempos?
GS: Os nossos principais ideais são a amizade entre todos os membros, a lealdade às cores do clube, pois os jogadores e dirigentes mudam mas a Fiorentina permanece para sempre. E por último a honra em defender o nosso nome, a nossa bandeira e os nossos ideais.
TV: O vosso Grupo tem um património histórico importante. Na vossa sede podem encontrar-se várias gerações que transmite a ideia de serem também uma família.
GS: Sim, é verdade. No nosso grupo existem pessoas com 50 e outras com 18 anos. Porque nós acreditamos que num grupo é importante a experiência de alguém mais velho aliada ao entusiasmo de um mais novo. Logicamente, no grupo, os mais jovens ligam-se e identificam-se com os novos e os mais velhos com os mais velhos. Mas sempre que vamos ao estádio ou viajamos, ficamos sempre juntos.
TV: Qual o vosso segredo?
GS: O Gruppo Storico não é o maior grupo na "Curva Fiesole" em termos de número de membros. O maior é o Collettivo Autonomo Viola (CAV). No entanto somos muito respeitados na curva e pelos outros clubes, porque os nossos fundadores fizeram a história da "Curva Fiesole". E também porque somos um grupo que, sempre que há problemas com outros adeptos, estamos sempre presentes para defender os nossos ideais e apoiar a Fiorentina em Itália e na Europa. Por isso, frequentemente recebemos certificados e mensagens de apoio de vários adeptos que não apoiam o nosso clube.
TV: Como definem o conceito de espírito de grupo?
GS: Em primeiro lugar somos um grupo de amigos com uma paixão em comum: a Fiorentina. Não temos problemas com nenhum grupo da "Curva Fiesole", mas gostamos de ser independentes e autónomos. Em Itália, quando viajamos, frequentemente vamos sozinhos em carrinhas de 9 lugares ou carros. Na Europa, nunca fizemos um voo charter, preferimos viajar sozinhos usando as companhias "low cost", em pequenos grupos de 10-15 pessoas. A amizade entre nós é a base para tudo o resto.
TV: Como caracterizam um "Gamellagio" (amizade) com outros grupos?
GS: Temos 3 amizades em Itália e 2 na Europa, cada uma com a sua história.
Torino: Uma boa amizade com uns dos melhores ultras em Itália. A amizade é ajudada pelo facto de termos um "inimigo" em comum, a Juventus (a outra equipa de Turim), mas a nossa amizade vai para além do ódio à Juventus. Nós frequentemente vamos a curva deles e eles vêm a nossa, em Florença.
Hellas Verona: Uma amizade que nasceu nos anos 70 após violentos confrontos, onde restaram muitos feridos entre nós e eles. Depois disso, nasceu uma bela e profunda amizade. Eles são adeptos de direita, mas em Florença a política nunca entrou na curva, por isso a amizade com o Verona é aceite mesmo por pessoas com ideais de esquerda.
Catanzaro: Infelizmente a militância deles da Série C2 não nos permite encontrar à vários anos, mas sabemos que a admiração e respeito permanece entre nós. A amizade nasceu em 1982, quando no último dia do campeonato estávamos a jogar para vencer a liga. Nós jogávamos contra o Cagliari e a Juventus estava a jogar em Catanzaro. E os adeptos do Catanzaro começaram a cantar pela Fiorentina.
Liverpool: A ultima que fizemos. Sempre admiramos os adeptos dos "Reds" e tentámos estabelecer uma amizade. Finalmente, no ano passado, quando fomos a Liverpool contra o Everton, indicámos contactos com os "Reds". Este ano, em Florença, oficializámos a amizade. Muito graças ao esforço do Gruppo Storico.
Sporting: Deixamos-vos para o fim, mas não com menos mérito. Gostamos bastante da amizade que temos convosco. Sempre gostámos das boas vindas que tivemos em Lisboa quando jogámos convosco para a Champions League. E mesmo os adeptos que não pertencem a nenhum grupo da Fiorentina, rapidamente ficaram a gostar do Sporting. Mas no geral ficámos bastante felizes com a vinda da Torcida a nossa sede. Desta maneira pudemos ver-vos, falar convosco e percebemos que a vossa mentalidade e maneira de ser "ultra" é muito similar à nossa, Grupo Storico. Esperamos encontrar-vos brevemente, manteremos contacto até isso ser possível.
TV: O que acham do preço bilhetes?
GS: Logicamente o preço dos bilhetes está demasiado alto. Em Florença temos o custo mais elevado quando comparado com as restantes "curvas" de Itália. Acreditamos que deveriam baixar os salários dos jogadores e que se devia restringir os direitos televisivos. E claro, o preço dos bilhetes devia ser mais baixo.
TV: E dos horários dos jogos?
GS: Não gostamos das diferentes horas a que os jogos são marcados. E a partir do próximo ano irão passar a haver inclusivamente jogos ao meio-dia aos Domingos. Somos forçados a fazer 600/800 Km numa tarde de Domingo para ver um jogo ás 21h. Quem organiza os horários de jogos sabe muito bem que no dia seguinte as pessoas têm de trabalhar, mas há muito pouco respeito pelos adeptos.
TV: E relativamente aos agentes dos jogadores?
GS: Os agentes dos jogadores são a ruína do futebol. Em vez de olhos só têm cifrões, só vêm dinheiro. Acabaram com o mito dos jogadores que jogavam por amor à camisola e que permaneciam toda a sua carreira no mesmo clube.
TV: O que pensam da "Pay TV"?
GS: A "Pay TV" é a responsável pela hora a que os jogos são marcados. Infelizmente na Europa, as organizações preferem favorecer o consumidor que está no sofá em casa a ver o jogo, do que os Ultras que vão ao estádio.
TV: E das falências de diversos clubes em toda a Europa?
GS: Isso é um assunto delicado para nós em Florença. Em 2002 a Fiorentina faliu por uns milhões de euros, enquanto que clubes como a Roma ou Lazio que têm muito mais dívidas puderam continuar a gastar. O Real Madrid tem muitas dívidas para com vários bancos, mas mesmo assim pôde comprar Kaka, Ronaldo e outros jogadores. O plano da UEFA, se alguma vez for posto em prática, de excluir da competição os clubes que tenham dividas, pode voltar a repor justiça no futebol.
TV: Que fazer?
GS: Iremos continuar a seguir a Fiorentina, em casa e fora, acreditando nos nossos ideais e nas nossas cores. A nossa esperança é que vocês na Europa League venham a Itália, para que possamos passar um dia juntos e apoiar o Sporting com vocês.
TV: Falem-nos da vossa experiência inesquecível - o retrocesso à Série C1 e o retorno à Série A.
GS: Vendo hoje, depois de 7 anos, podemos dizer-vos que foi uma experiência positiva. Em 2 anos passámos de jogar em Wembley com o Arsenal, para quintas e pequenas vilas em Itália que nem conseguíamos encontrar no mapa. Mas os adeptos responderam sempre, mesmo na Série C tínhamos 30.000 adeptos no estádio. Felizmente encontrámos alguns dirigentes que querem ganhar em Florença, por isso ganhámos a Série C e no ano seguinte a Série B. Chegámos à série A com uma estabilidade que nos permitiu ser uma equipa do top 4 da liga. Por isso vos dizemos, ir a série C foi uma boa experiência, mas não queremos voltar a repetir.
TV: Qual a importância dos Centros Sociais na formação do movimento Ultra?
GS: Perguntam-me pelos centros sociais, mas podemos dizer-vos que em Florença a politica permanece fora do estádio. No nosso grupo e em todos os grupos da Fiorentina existem pessoas com diferentes ideais, mas quando entramos no estádio só existe a Fiorentina. Na vida do dia a dia cada um faz e diz o que quer, mas nós preferimos não misturar política com futebol.
TV: Quais os verdadeiros valores do ideal ultra na vossa opinião?
GS: Os ideais que os grupos devem ter (e nem todos têm, pelo menos não em Itália) são os mesmo que referi anteriormente: Amizade, lealdade e honra.
TV: O movimento ultra em Itália parece atravessar uma grave momento. Há mesmo quem diga que os valores dos anos 70 e 80 não estão presentes na maior parte das curvas. Que se passa?
GS: É a ultima pergunta, mas a mais difícil de responder. A repressão da polícia tornou-se cada vez maior. Em Itália, por exemplo, existe a "Daspo" que é uma medida em que alguém for apanhado a fazer algo fora dos regulamentos, fica interdito de ir a um estádio por um período que vai de 3 a 5 anos. Lentamente, foi afastando líderes de vários grupos e vários grupos caíram nas mãos dos mais novos e acabaram por se extinguir. Também nos anos 80 a droga teve um grande impacto, matando muita gente, arruinando muitas famílias e, por isso, afastou uma geração dos estádios. Além disso, hoje em dia o fenómeno ultra mudou bastante em relação ao que era há 20 anos e somos forcados a adaptarmo-nos. Por exemplo, o facto de cada grupo ultra ter o seu próprio Website é uma demonstração dos tempos modernos.
GS: Por fim, todos nós do Gruppo Storico gostaríamos de felicitar a Torcida Verde. Obrigado pela vossa amizade e demonstrações de como não se esquecem de nós. Esperamos encontrar-vos brevemente.
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